



1, 2, 3... ação
Seja bem vindo! Acomode-se em seu sofá, porque agora vou contar a minha história. Você já me conhece muito bem, me ouviu no rádio, assistiu na televisão e leu nas revistas. A primeira vez que fui transmitida na televisão foi na TV Tupi e, desde então, sou uma febre nacional exibida em horário nobre. Sou uma das programações com maior índice de audiência na televisão aberta e vejam: sem distinção de sexo, conquistei a atenção de todos. Nas bancas estampei as capas das revistas, de TI-TI-TI à Minha Novela. Todo mundo queria descobrir os acontecimentos dos próximos capítulos! Posso ser moldada de acordo com o engajamento e reação dos meus telespectadores para ir ao encontro de suas vontades, além de surpreendê-los a cada episódio. Fiz você viajar por Marrocos, Itália e até as Índias. Já fui adaptação de clássicos da literatura, como Gabriela, Escrava Isaura e Éramos Seis. Mas nem tudo é brincadeira, também sou um método de reflexão da nossa sociedade, utilizada para abordar temas como tráfico de mulheres, racismo e pedofilia. Eu sou a novela, coleciono histórias que são escritas, roteirizadas, produzidas e levadas até você.
Texto: Gabriela Viana
gênero atemporal
Ao longo dos anos as novelas mudaram e se transformaram entre si. Entre a radionovela, a fotonovela e a telenovela muitas coisas foram alteradas, mas a paixão por esse gênero só cresceu e foi passando de geração à geração.
As fotonovelas estiveram por cerca de 25 anos no mercado, conquistando em grande maioria o público feminino. Nos anos de 1970, mais de 20 revistas de fotonovela circularam pelo país.
Antes da televisão, o rádio era o meio mais popular e o grande companheiro dos brasileiros. As radionovelas foram fundamentais na era de ouro do rádio no Brasil e surgiram a partir da década de 1940, fazendo sucesso por mais de 20 anos.
Com a chegada da televisão e o início das teledramaturgias, muitos radioatores migraram para as telenovelas, que foram um verdadeiro fenômeno e um marco na sociedade, permanecendo até hoje como o gênero mais consumido no horário nobre da televisão.
Atualmente, com o aumento do acesso à internet e também com o crescimento de plataformas digitais, as telenovelas têm perdido parte de seu público e um novo gênero vêm se tornando popular: as séries. Seriam elas as substitutas das telenovelas?
Confira uma série documental com a linha do tempo das novelas, em que conversamos com especialistas para entender o que cada produção representou na sociedade e a história de cada uma delas.
Texto: Gabriela Viana/Edição: Luchelle Furtado
influência das novelas na sociedade
As novelas ainda são um dos produtos mais consumidos na televisão dos brasileiros, mesmo em uma era de streaming. A novela “A Dona do Pedaço”, por exemplo, exibida recentemente no horário nobre da Rede Globo, alcançou números expressivos de audiência. Segundo dados emitidos pela própria emissora, os capítulos diários da trama foram exibidos para aproximadamente vinte e seis milhões de pessoas por minuto.
"Podemos afirmar que a novela é o produto de maior comercialização dentro da televisão e é nosso carro chefe em exportação. Nossas produções são vistas pelo mundo todo. Ela é o produto mais caro da televisão”, explica o professor doutor Dirceu Lemos da Silva.
Segundo a tabela de preços da Jovedata, um comercial entre os intervalos das novelas das 19h custam aproximadamente 500 mil reais. Já nas reproduzidas às 21h, os preços variam de 674 mil a 830 mil reais.
Segundo o pesquisador de teledramaturgia Valmir Moratelli, autor do livro "O que as novelas exibem enquanto o mundo se transforma", o segredo para todo esse sucesso é a identificação. Seja na riqueza que jamais teríamos ou na vida simples que levamos.
Ao longo dos anos, o escritor entrevistou diversos autores de novelas como Gilberto Braga, Walcyr Carrasco e Gloria Perez. Quando questionados sobre de onde surge a inspiração para a criação das novelas e por que elas fazem tanto sucesso.
"Eles me responderam o seguinte: a minha novela corresponde ao que está acontecendo na rua. A Theresa Falcão, co-autora com João Manuel Carneiro em Avenida Brasil (2012), me falou o seguinte: 'para escrever uma novela eu preciso abrir a janela de casa e ver o que está acontecendo na calçada.' Talvez essa seja a síntese de toda essa discussão."
Um dos exemplos mais comuns desse fenômeno é Avenida Brasil, que retrata uma família de classe média. O cenário foi uma escolha interessante, já que apenas alguns anos antes o país passava por uma mudança na política, resultando na


transformação das classes econômicas. A obra retratou a relação entre a família e o dinheiro com base na veracidade característica de uma sociedade que estava duelando entre a ascensão econômica e as dívidas.
Modificação social
Mas não é apenas a novela que é influenciada pelo telespectador, o contrário também acontece. Segundo a pesquisa "Soap Opera and Fertility: Evidence from Brazil" realizada em 2012 por Alberto Chong, Eliana La Ferrara e Suzanne Duryea, as áreas cobertas com o sinal da Rede Globo tiveram uma queda significativa no número de natalidade.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa caiu de 6,3 crianças por cada mulher em 1960 para 2,3 em 2000. A pesquisa explica que isso estava ligado diretamente com os exemplos recebidos pelas telenovelas. O mesmo ocorreu com o número de divórcios no país.
Segundo o BID, Banco Internacional de Desenvolvimento, a partir do momento em que o divórcio passou a ser retratado de forma mais natural e recorrente, a taxa da população decidida a fazer o mesmo aumentou agressivamente.
É fato que a televisão analisa o ambiente externo e reproduz suas características aos cenários de acordo com que a sociedade se desenvolve, agregando aos seus enredos todas as novidades do mundo que está sempre em constante evolução.
Com a chegada das plataformas de streaming e a onda frenética de novas séries, questionou-se se as novelas continuariam com seu espaço nas televisões brasileiras, tendo como público as futuras gerações.
Para o pesquisador Valmir Moratelli, os jovens estão encarando a novela de forma diferente. “O público hoje é cada vez mais exigente, principalmente porque hoje eles têm mais acesso a outras produções. A gente não pode deixar de lado que o Brasil é muito grande, de dimensões continentais. Se formos para o interior do país como o de Minas Gerais ou do Rio de Janeiro, por exemplo, a telenovela é a única forma de entretenimento que as pessoas têm durante a noite. Ainda há a cultura de se reunir para assistir os capítulos exibidos. Então é errado dizer que a futura geração não vai ter acesso à isso - novela.”
Texto: Vitória Merola/Foto: Internet
quem são os telespectadores?
No início, as novelas foram criadas e produzidas pensando apenas em seu público feminino. Seus horários iam de encontro à rotina da dona de casa que acompanhava diariamente as produções. Com o passar dos anos, histórias como “Irmãos Coragem” (1970) foram veiculadas e acabaram conquistando novos públicos, como o masculino e as gerações mais jovens.
Em 2018, a Rede Globo passou por um período de queda na audiência com a novela o “Sétimo Guardião”, que registrou no IBOPE média de 28,8 pontos de audiência. Contudo, em 2019, a novela “A Dona do Pedaço” garantiu bons índices de público.
Com diversos recursos multimidiáticos, a trama agitou as redes sociais e alcançou os mais diversos telespectadores, chegando a marca média de 36 pontos de audiência, segundo o IBOPE.
A novela escrita por Walcyr Carrasco se tornou a segunda novela de maior audiência dos últimos 5 anos e garantiu boa retomada de audiência no horário das 21h da Rede Globo.
Confira nos gráficos ao lado quem era o público e qual era o perfil de quem acompanhou a história da boleira Maria da Paz em “A Dona do Pedaço”.
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Texto: Gabriela Viana/Gráficos: Vitória Merola
lembranças de folhetim
Quantas histórias as novelas podem nos contar. Quantas pessoas um último capítulo já reuniu, de quantos burburinhos já não participou? Ai, e quantas lembranças boas eu guardo das novelas. As novelas da tarde que me lembram o café de minha mãe, que assistia atenta a todos os capítulos depois de passar o café da tarde, vezes sozinha, vezes na companhia da vizinha ou de alguma tia. Quantas histórias, nossas e de outros, as novelas narraram e levaram adiante. Quantos sonhos se formaram a partir de uma história contada nas telenovelas? Tantas visões diferentes um só personagem pode atrair. Eu mesma, enquanto o restante do país cultiva um ódio genuíno de Odete Roitman, eu regava dentro de mim o sonho de ser uma mulher como ela, forte e decidida, bem sucedida. Também me lembro o quanto vi os laços de Porcina em "Roque Santeiro", e usar batom vermelho com argola como os de Raquel em "Mulheres de Areia", quanto usei as pulseiras da Jade em "O Clone" e as capinhas de celular da delegada Helô em "Salve Jorge". Vivia tão cegamente as novelas que por vezes confundia minha vida à do personagem, mas, quem sou eu de verdade? Uma mistura de tudo que vi e ouvi, de tantas culturas que as novelas me apresentaram, tantas gírias e formas de se vestir e falar, o que escutar, o que comer. Quantas lembranças guardo comigo, das vezes que a novela foi minha vida e minha vida foi uma novela.
Texto: Gabriela Viana
bordões "felomenais"
Não são apenas as roupas que vão para as ruas do país e viram tendência. Algumas novelas contam com personagens que se tornam virais também pelo seu jeito de falar. Alguns bordões, por exemplo, ficam na boca do povo. Isso ocorre porque aparecem repetidamente nas novelas e, muitas vezes, têm um tom humorístico.
Quantas vezes você não ouviu as pessoas repetirem “Inch'Allah” pelas ruas, mal sabendo seu significado, só por ouvir na novela “O Clone”, de 2000? E o que dizer da frase “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, falada por Tony Ramos como Manolo Gutierrez em “As Filhas da Mãe”, de 2001?
Alguns bordões marcaram tanto o vocabulário dos telespectadores, que se perderam no tempo e, mesmo não sabendo a origem, são falados até hoje.
Mas será que a galera reconhece alguns dos bordões mais populares das telenovelas? É isso que você confere agora neste vídeo “felomenal”.
Texto: Gabriela Viana/Vídeo: Vitória Merola, Luchelle Furtado e Beatriz Ceschim

profissional da poltrona
O ano era 1977. O relógio marcava 18h. Nesse instante, as brincadeiras cessaram porque estava na hora de voltar para casa. Após tomar um banho, ajeitou-se no sofá e esperou pela abertura de Éramos Seis.
Depois dessa produção da TV Tupi, o amor de Nilson Xavier pelas telenovelas foi crescendo cada vez mais. Com 10 anos, Nilson começou a catalogar tudo sobre essas tramas. Ele preenchia cadernos e mais cadernos com as curiosidades, os personagens, os enredos e as trilhas sonoras de cada uma das histórias. A primeira da prateleira foi Marron Glacé, transmitida entre 1979 e 1980.
Durante a infância, as novelas das oito eram proibidas, por apresentar temas mais pesados. Por isso, Nilson se apaixonou pelas produções das sete. Por terem um tom mais cômico, e sempre com assuntos mais leves, essas tramas são, até hoje, as suas preferidas.
A partir de 1984, os pais permitiram que ele assistisse aos folhetins das oito. Com isso, as noites da sua adolescência foram sempre ocupadas. As histórias eram vistas em companhia dos familiares. Elas eram tão cativantes que o prendiam a ponto de nunca querer desgrudar os olhos das telas.
Depois de incluir dezenas de novelas em seus catálogos, Nilson decidiu compartilhar essas anotações com os internautas. No ano 2000, ele fundou o blog Teledramaturgia, em que conta de forma detalhada informações sobre cada uma das tramas.
Devido à ótima repercussão que o site teve, o catalogador de histórias reuniu todos os seus cadernos e criou o Almanaque da Telenovela Brasileira. Em seu livro, Nilson conta sobre os elencos, as tramas e detalhes das produções feitas por diversas emissoras desde 1963.
Graças ao sucesso do seu site e do livro, Nilson virou referência na área. Por ter esse destaque, ele foi convidado para ser membro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), entidade famosa que premia muitas produções audiovisuais.
E, de tanto assistir a avaliar, Nilson considera que há certas fórmulas que são melhores para a teledramaturgia. “Para prender o público, a novela precisa ter um gancho ao final de cada capítulo, que desperta a curiosidade para querer continuar assistindo aquela história no dia seguinte. E assim sucessivamente por seis meses.”
Além de avaliar as novelas, ele tem blogs no UOL e Huffpost Brasil, dois portais de notícias e opinião. Em cada um deles, Nilson escreve uma coluna sobre as produções televisivas, sendo um dos seus temas mais recorrentes a nova versão de Éramos Seis (2019), da Rede Globo.
“As novelas me influenciaram tanto a ponto de hoje ser o meu ganha-pão. Eu lancei um livro e criei um site”, comenta ele com uma fala serena e realizada. Apesar de ter se formado analista de sistemas, aquele passatempo ainda na infância, hoje, além de sua paixão, se tornou o seu trabalho.


Na verdade, existe um ditado de diz que “quem faz o que ama não trabalha um só dia se quer”. Nilson é uma dessas pessoas. Sentar na poltrona depois de um longo dia e acompanhar o próximo capítulo da novela não o torna um simples telespectador. O olhar atento em cada detalhe da trama faz com que o profissional se divirta e se irrite, claro, em algumas situações.
E ao fim de cada capítulo surge sempre uma nova opinião na certeza de que, mesmo não sendo um bom final, sempre um novo virá.
Texto: Beatriz Ceschim/Fotos: Arquivo Pessoal
na memória
A telenovela se tornou muito mais que um produto para entretenimento, mas sim um agente cultural. Você se lembra quando e como começou a assistir novelas? As vezes, nem reparamos que um capítulo chama atenção, e então uma nova novela com um enredo interessante te faz voltar todos os dias no mesmo horário para acompanhar os desdobramentos daquele folhetim.
As histórias, que por vezes os telespectadores se identificam, prendem a atenção de forma muito rápida. Isso ocorre porque é uma fuga da própria realidade de cada pessoa, que possibilita mergulhar em novas histórias e descobertas.
Mas que fórmula mágica as novelas possuem para prender tanto as pessoas e, na maioria das vezes, de forma tão prematura? Segundo a pesquisadora do Núcleo de Telenovelas da ECA-USP, Daniela Jakubaszko “elas prendem nossa atenção porque ajudam a compreender o mundo. Essas narrativas nos colocam em contato com o nosso tempo. A gente tem essa curiosidade de saber de tudo, e na nossa vivência não conseguimos fazer isso. Então são as narrativas, sobretudo as audiovisuais que nos apresentam mundos diferentes dos nossos, nos ajudam a entender os nossos próprios mundos.”
Neste documentário você vai conferir depoimentos de pessoas que já assistiram muitas novelas no passado e de outras que não vivem sem as tramas em seu dia a dia.




Texto: Gabriela Viana/Vídeo: Beatriz Ceschim e Luchelle Furtado
personagens LGBTQI+ nas novelas
Abordando temas polêmicos, as novelas abriram espaço para a presença de personagens LGBTQI+, mais especificamente depois da década de 1970. Foi um processo demorado, mas os programas de televisão contaram com personagens gays, mesmo que de forma velada, já que o assunto era bastante polêmico, na época .
Na grande maioria das vezes, os personagens LGBTQI+ foram introduzidos com muitos estereótipos, sempre fazendo parte do núcleo cômico e com características bem afetadas como fala e modo de se vestir.
Ao longo dos anos 1980, a censura ainda controlava muito a exposição desses personagens, cortando até diálogos que pudessem discutir o assunto.
Foi somente na década de 1990, após o final da ditadura, que a comunidade LGBTQI+ obteve mais liberdade de discutir e buscar seus direitos e as novelas passaram a ceder um espaço maior para esses debates.
Após os anos 2000, a representatividade LGBTQI+ nas novelas teve um “boom” e desde 2003 as tramas da Rede Globo do horário das 21h tem pelo menos um personagem LGBT.
Veja na galeria alguns personagens LGBTQI+ que marcaram as novelas.
Texto: Gabriela Viana/Galeria: Luchelle Furtado
negros que marcaram as novelas
Os atores negros sempre tiveram espaço restrito nas telinhas. Em 1960, foi anunciada a primeira telenovela com um protagonista negro em cena. A novela “A Cabana de Tomás”, da Rede Globo, na verdade foi ao ar com Sérgio Cardoso como protagonista, um ator branco utilizando a técnica de blackface, que dava vida ao personagem Tomás, um escravo. Portanto, o protagonista não deixou de ser um ator branco.
Em 1978, na novela “Pecado Capital”, o ator Milton Gonçalves interpretou um médico após pedir para a escritora Janete Clair um papel que tivesse uma condição social melhor, em meio a uma época que a maioria dos negros interpretavam escravos, empregados domésticos e papéis coadjuvantes de pouco destaque social. Desde então, os personagens negros com maior prestígio passaram a ser mais frequentes.
A primeira mulher negra a ser protagonista de uma novela foi Taís Araújo em “Xica da Silva”, na TV Manchete em 1996. A atriz também foi a primeira protagonista negra da Rede Globo na novela “Da Cor do Pecado” em 2006.
Segundo reportagem realizada pelo UOL em 2018, entre Globo, Record e SBT a porcentagem de atores negros trabalhando nas dramaturgias era de apenas 7,98%.
Através de muita luta, os atores negros brigaram e ainda lutam a cada dia em busca de seu espaço nas teledramaturgias. Veja a galeria com alguns atores negros marcantes de novelas.
Texto: Gabriela Viana/Galeria: Luchelle Furtado
moda e acessórios que invadiram o mercado popular
Com certeza você já usou alguma roupa ou acessório que virou febre graças a uma personagem de novela. Diversas personas fizeram sucesso não apenas pelo seu papel na telinha, mas também pelo seu look.
As novelas sempre tiveram uma forte ligação com a moda. Esse setor é um dos elementos principais para aproximar a novela das ruas, que garante que aquele personagem corresponda a algo real, e para auxiliar o ator a assumir aquele personagem com toda a caracterização projetada pelo figurinista.
Determinados acessórios ou roupas, e até mesmo cabelo e maquiagem, podem se tornar a marca de algum personagem. Além de, consequentemente, vender como água nos comércios e se tornar tendência nas ruas.
No vídeo a seguir, você confere como algumas dessas tendências saíram das telinhas e foram para as ruas.
Texto: Gabriela Viana/Vídeo: Vitória Merola

criadora de identidades
Como um figurino é escolhido para os personagens de uma trama? Alguns podem até passar despercebidos, mas determinadas combinações podem ser chave de sucesso e se tornar a marca daquele vilão ou mocinho.
Para saber mais sobre o trabalho de uma figurinista, conversamos com Georgia Melina Ferreira Sampaio, mais conhecida como Gogoia Sampaio, figurinista da Rede Globo.
Carioca e filha de uma produtora, largou a faculdade de psicologia para se dedicar ao trabalho de produção. Gogoia cresceu como fruto da geração das novelas, o que aguçou sua paixão pelos figurinos em cena. Foi por meio da figurinista Marília Carneiro, no início dos anos de 1990, que começou seu trabalho como assistente da Rede Globo.
Sua primeira novela como figurinista titular foi “Salsa e Merengue”, em 1996, desde então trabalhou em “Sabor da Paixão” (2002), “Da Cor do Pecado” (2004), “Belíssima” (2005), “Passione” (2010), “Cheias de Charme” (2012) e o remake de “Saramandaia” (2013). A figurinista recebeu dois prêmios “Contigo!” de melhor figurino: em 2003 com “Sabor da Paixão” e 2006 com “Belíssima”.
Horário Nobre: Como nasceu o seu amor pelo mundo da arte?
Gogoia Sampaio: Então, minha mãe, Adélia Ferreira, é produtora de cinema. E, quando eu era pequena, meu tio Tony Ferreira, famoso ator brasileiro que participou de telenovelas como “Estúpido Cupido” (1976) e “Mandala” (1987), morava na mesma casa que eu. Naquele período, ele fazia teatro e, como não tinha uma babá para cuidar de mim, eu era levada para as apresentações. O momento que tudo mudou para mim foi na peça “Tudo no Escuro”, do dramaturgo e humorista Jô Soares. Eu observava pelas coxias, o que estava ocorrendo no palco e ficava maravilhada, principalmente, com toda a produção que acontecia nos bastidores.
HN: Qual é a sua relação com as novelas?
GS: Eu cresci vendo novela, porque era uma coisa que me interessava muito. Uma das produções que mais me marcou e influenciou muito foi “Dancin’ Days” (1978). Essa conexão aconteceu, porque a novela trouxe diversas tendências, como as meias de lurex. Depois disso, muitas novelas começaram a ter mais importância no cenário nacional.
HN: Quando e como você decidiu seguir a carreira de figurinista?
GS: Durante uma de suas peças, o Tony Ferreira me apresentou a atriz Maria Lúcia Dahl. E me convidaram para viajar junto com a peça e trabalhar na área administrativa da produção e eu fui. Depois de um tempo, a Maria Lúcia me disse que eu precisava conhecer a irmã dela, a figurinista Marília Carneiro, artista por trás das roupas de “Dancin’ Days” (1978) e “A Casa das Sete Mulheres” (2003). Em 1989, ela me chamou para fazer um estágio com ela e estou até lá até hoje.
HN: Como é o processo de criação do figurino?
GS: Tudo começa com um texto. A partir do roteiro e das instruções dadas pelos autores das novelas, a gente conversa com diretor. Depois vem a consultoria com o ator e por fim as provas de roupas. O mais importante de tudo isso é constar em que ano, lugar e época se passam as histórias. Isso faz toda diferença na hora de montar o personagem.
HN: Como é feita a pesquisa para criar a identidade visual e o estilo do personagem?
GS: A gente analisa em que lugar aquele personagem vive, com o que ele trabalha, em que época do ano se passa a novela e em que região do Brasil acontece a história. Portanto, faz sempre diferença esse entendimento sobre o personagem, suas origens e o período. O ator também faz muita diferença, precisa ser algo que combine com o seu biotipo. O que vai acontecer com o personagem também é importante. Por exemplo, se ele é uma atleta, provavelmente ela não vai ficar usando salto alto. Aliás, a criação do figurino é muito parecida com a vida da gente.
HN: A novela “Salsa e Merengue” (1996) foi sua primeira como figurinista titular . Quais foram as maiores dificuldades?
GS: A história de “Salsa e Merengue” foi muito curiosa, porque na verdade quem começou a novela foi a figurinista Helena Gastal. Só que ela saiu e eu tive que entrar em emergência para regravar toda novela. Então, foi uma coisa assim que não deu tempo de pensar, simplesmente foi acontecendo.
HN: Durante a produção do remake de “Saramandaia” (2013), como você foi participar dessa produção?
GS: “Saramandaia” foi um dos meus maiores desafios. Como era um remake, a gente tentou modernizar tudo. O foco do processo era a Dona Redonda, personagem interpretada pela Vera Holtz. Essa persona era muito gorda e no fim da novela, ela explodia. Foi uma experiência muito diferente, porque ela era cheia de próteses. Então, prepará-la demorava cerca de seis horas.
HN: A novela “Belíssima” (2005) discutia valores como beleza. Além disso, na trama, tinha uma empresa de moda íntima e a personagem Vitória (Cláudia Abreu) lançou moda com os seus vestidinhos longos e soltinhos. Como foi o processo de criação dos figurinos dessa novela?
GS: “Belíssima” também foi algo muito especial na minha vida, porque o Silvio de Abreu teve a ideia e a gente já começou a trabalhar juntos. Eu ajudei ele desde o processo de busca de que tipo de indústria seria usada na novela. Não queríamos que fosse uma empresa qualquer. Percebemos que uma das maiores fábricas no Brasil era de tecido de lingerie e aí o Silvio começou a escrever. Já os vestidos da Cláudia Abreu foi curioso, porque eu não esperava que fosse virar algo tão marcante. Na novela, a Cláudia Abreu morava na Grécia e nesse país venta muito. Então, sempre que eu pensava na sua roupa e no seu cabelo, precisava ser algo leve. Portanto, os vestidos longos de alcinha eram a melhor escolha. E como não existia nada parecido com aquilo, virou um sucesso enorme.
HN: Na novela “Explode Coração” (1995), as vestimentas ciganas viraram tendências. Como foi criar personagens de uma cultura diferente?
GS: Na novela “Explode Coração” eu trabalhava com a Marília Carneiro, figurinista da Rede Globo. Como a Glória Perez gosta muito de explorar costumes diferentes então ela trouxe ciganas para nos ajudar. Isso é muito curioso, porque a gente está de fora não consegue enxergar aquela cultura como uma coisa normal. Então tentamos passar para o público de uma forma que as pessoas tivessem um olhar mais agradável sobre aquele povo.
HN: Os figurinistas interferem na montagem do cabelo e maquiagem dos personagens?
GS: Na verdade o trabalho de cabelo, maquiagem e roupa é realizado por uma pessoa só. Já que uma coisa não tem como acontecer sem a outra. Então, o figurinista é responsável por aquela persona como um todo, mas existe um departamento que cuida e sugere a caracterização.
HN: Até onde os artistas têm liberdade para trazer a sua originalidade e alterar ou inserir itens no figurino?
GS: Trabalho do figurino é coletivo, mas quem determina mesmo como será o personagem sempre são o autor e o diretor. Eu só faço a tradução do figurino do personagem de acordo com o que eles estão pedindo.
HN: Quais são as maiores diferenças da criação de um personagem feminino e um masculino?
GS: Não tem nenhuma diferença. É sempre o mesmo pensamento. Claro que o homem tem menos opção de roupa do que a mulher, mas também depende do personagem. Eu fiz a “Geração Brasil” (2014) com o Lázaro Ramos, em que o personagem dele tinha muito mais figurinos do que outros atores. Na novela, o ator interpretava Brian Benson, um guru pop e físico quântico, que dava conselhos sobre tecnologia. Como ele era de São Francisco, na Califórnia (EUA), nos inspiramos nos trajes utilizados pelos californianos para criar sua persona. Então, ele tinha peças mais ousadas, itens metalizados e muitas sobreposições, algo que não é muito comum em figurinos masculinos.
Texto: Gabriela Viana e Beatriz Ceschim/Foto: Arquivo Pessoal
qual é o processo de produção de uma telenovela?
Antes de chegar à televisão, as novelas passam por um trabalhoso processo de criação, desde a sua ideia inicial até a edição final dos capítulos. Todo o processo de pré-produção pode envolver uma série de pesquisas, até mesmo para determinar qual tema se encaixa melhor em cada horário.
Uma história inicial é proposta, os atores são selecionados e os cenários montados para as gravações. Entretanto, tudo pode mudar no caminho dessa história, indo de acordo com as preferências e reações de seu público.
Confira a seguir um passo a passo detalhado de cada etapa deste processo, elaborado a partir da entrevista com o professor-doutor Dirceu Lemos, especializado em Produção Executiva e Gestão de TV.
Texto: Gabriela Viana/Infográfico: Vitória Merola, Natalia Sayuri, Hemelin Feitosa e Caroline Tiemi


das coxias para as telas
“Criei-vos filhos meus em vão. Sofri em vão por vós. Dilacerada, nas dores artroses do parto. Ai de mim! Ai de mim… Por que voltais os olhos tão expressivamente para mim, meus filhos? Por que estais sorrindo para mim agora? Com esse derradeiro olhar… Não! Tenho de ousar.”
Mãe de três filhos e atriz. Mesmo chocando o público como Medéia, figura famosa na mitologia grega por assassinar os próprios filhos, ela nunca confundiu sua vida com a das suas personagens. Sempre soube separar muito bem o realismo da realidade. Filha de ferroviário, nascida em Ribeirão Preto, a vida da caipira não foi fácil. Para ajudar a família, chegou a vender doces de manga na estação em que o pai trabalhava. Quando criança, descobriu o talento para declamação de poesias.
Custo a acreditar, meu Deus
que cumpro
meu destino
enquanto escovo os dentes
placidamente
diante desse espelho
que já nem me reflete


Com 18 anos, ameaçou o irmão que, se não fosse a São Paulo para fazer faculdade, fugiria de casa. Depois de conversar com a família, os pais colocaram as malas nas costas e seguiram seu caminho até a capital paulista. Ao chegar na cidade grande, fez cursinho e ingressou no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo.
E foi entre perguntas e passeatas na Rua Maria Antônia que se encantou pelo Centro Popular da Cultura da UNE-CPC. A filosofia embalou na dança e a menina descobriu o mundo das artes cênicas. Até hoje atua na esperança de respostas e dias melhores.
Entre um ensaio e outro, a timidez deu lugar ao talento, considerado um dom divino. “Eu tenho talento, isso é uma coisa que não preciso me vangloriar. Porque talento é uma habilidade natural que você tem para fazer uma determinada coisa com facilidade e com excelência. E você nasce com isso. Então, eu nasci com ele. A minha responsabilidade é em relação a isso.”
Uma coxia levou à outra. Enquanto o amor pela dramaturgia crescia, as idas ao Teatro Arena tornaram-se frequentes. A estreia profissional foi na peça Onde Canta o Sabiá, de Gastão Tojeiro. A partir de 1963, não deixou mais os palcos.
Para não dizer que não falei das flores...
Nem tudo são flores.
Depois de anos batendo o pé no chão dos palcos, a repressão veio. E chegou em forma tão descarada quanto a vontade da atriz de burlá-la e apresentar sua arte sincera.
Em 1968 veio a estreia na televisão e não era pouca coisa. Apareceu na novela “Beto Rockfeller”, da primeira emissora brasileira, TV Tupi, em que trabalhou por dez anos. Após uma década de hiato, retorna às telas para seu lançamento na TV Globo, na minissérie Sampa, em 1988.
A primeira novela na emissora foi “Cara & Coroa”, em 1995. No ano seguinte encarou o seu papel mais marcante na televisão, a empregada Judite, em “O Rei do Gado”. Esse papel lhe trouxe memórias únicas, já que relembrava sua casa. “Durante a produção, nós andávamos descalços, em contato com a terra, e isso me teletransportava para minha infância, com a lama entre os dedos, nas ruas da paulista Ribeirão Preto.”

Além da nostalgia, sua personagem rendeu uma das cenas mais sensuais da novela, em que a diarista mergulhou na banheira junto a Geremias, interpretado por Raul Cortez. Sua atuação marcante e apaixonada rendeu um troféu da Associação Paulista de Críticos da Arte, de Melhor Atriz Coadjuvante.
Por mais que faça sucesso nas telas, o amor de Walderez de Barros é o teatro. A abertura das cortinas, o choro do público, as risadas e o som ensurdecedor dos aplausos. Nada substitui o sentimento de se aprofundar num papel e viver aquela história intensamente.
“O teatro, se acabar o mundo, jogarem uma bomba e explodirem tudo, mas sobrarem duas pessoas, não precisa de mais nada. Figurino, iluminação, não precisa! Uma representa e, a outra, assiste.”
Texto: Beatriz Ceschim/Fotos: Internet

polêmicas e amadas
Já pensou em ser uma vilã de novela? Essas personagens sempre tiveram grande destaque nessas produções. São uma figura chave para a trama se desenvolver, afinal, elas estão lá para atrapalhar a felicidade dos mocinhos. A figura de um vilão ou vilã é essencial, e na grande maioria se tornam bem mais marcantes na memória que os próprios protagonistas.
Dividindo o público entre o amor e ódio, esses personagens traçam sempre caminhos muito parecidos, se dão bem durante a novela, têm seus momentos de deslize e só no final suas maldades são descobertas e sofrem uma punição, ou até mesmo morrem.
O publicitário e roteirista Rubens de Faria explica que os vilões de novela normalmente carregam uma essência quase como o Coiote e Papa Léguas. “A gente tem uma tendência a, por mais que você não concorde com o vilão, trazer essa coisa cartunesca. Geralmente eles são bem humorados, são debochados e mais espertos. Além disso, suas falas acabam virando bordão e sinônimo de palavreado entre os amigos.”
É por isso que a lembrança de um vilão é facilmente guardada em relação aos protagonistas. E agora, depois de compreender a essência de um antagonista, vamos descobrir que vilã de novela você é?
Texto e Quiz: Gabriela Viana
para relembrar os bons momentos
Quantas músicas se tornaram marcantes por ser tema de abertura de uma novela de sucesso? Artistas que estouraram graças ao sucesso de sua canção nas produções televisivas? As trilhas sonoras de uma novela têm um papel muito importante na construção da narrativa, principalmente, ao que envolve a memória afetiva do telespectador.
Como não lembrar de Porcina, de “Roque Santeiro” (1985), ao ouvir “Dona” na gravação do Roupa Nova? Ou lembrar de Norminha de “Caminho das Índias” (2009) quando toca “Você não vale nada mas eu gosto de você” do Calcinha Preta? A música nos teletransporta direto para nossa lembrança.
A escolha dessas músicas não é um processo fácil. Personagem, enredo, situação, tudo tem seu peso nessa seleção. É um trabalho feito em conjunto e pode demorar tanto tempo quanto a produção da trama, até passar do processo de seleção. Após a aprovação, é feito todo o trâmite de liberação junto às
gravadoras e artistas. Mas existem casos até que, as músicas são encomendadas para determinadas novelas e personagens.
O processo de escolha depende muito também do sucesso do momento, além da identificação com o personagem. Músicas de cantores que estão no auge de sua carreira ganham vantagem de outros.
Mas, muitos artistas se tornaram conhecidos no país após sua música ser selecionada por alguma obra, como na novela “Laços de Família” (2000), que a canção “Love By Grace”, de Lara Fabian, se tornou muito marcante na cena do corte de cabelo de Camila, vivida por Carolina Dieckmann, devido ao tratamento de leucemia. O disco internacional da novela foi o mais vendido de 2001, ano de exibição da novela.
Se divirta com uma playlist feita com trilhas sonoras de novelas que embalaram gerações.
Texto: Gabriela Viana/Playlist: Beatriz Ceschim
as noveleiras


Beatriz Ceschim
"Não imaginam o prazer que é estar de volta"
Gabriela Viana
"É biscoito fino"

Luchelle Furtado
"Eu sou chique, bem"
